AMULETOS DA SAUDADE
Quando me pega a saudade
Não procuro o telefone
Não recorro às fotos
Não visito endereços.
Quando me pega a saudade
Simplesmente escrevo.
Paro no corredor do meu trafego
Congestionando o pensamento.
Depois sinto que não sou mais o mesmo
Minhas veias cortam caminho
Saio levitando.
Já não sei se vivo
Ou se estou com uma folha agarrada nos dentes.
Quando me pega a saudade
Eu não acendo a luz
Não falo de momentos
Não lembro de rostos.
Quando me pega a saudade
Presto atenção no silencio
E copio seus segredos ao longe
No naufrágio das águas no tempo.
Depois desapareço em mim
Minhas mãos acariciam o tecido do vento
Por baixo de suas vestes e nuvens
Para assombrar a noite
E deixar rastros do meu galope nas montanhas.
Quando me pega a saudade
Eu não remexo gavetas
Não ouço música
Não releio cartas.
Quando me pega a saudade
Penetro em minha respiração
Orbito no espaço das emoções
Caio devagar sobre um campo de palavras,
Depois não perguntem por mim
Não me procurem em casa.
Esperem minha volta
acampados em frente a uma fogueira
Ou sonhando com a chuva
arrastando um pouco de terra
Que eu já chego com um poema novo.