AMULETOS DA SAUDADE

Quando me pega a saudade

Não procuro o telefone

Não recorro às fotos

Não visito endereços.

Quando me pega a saudade

Simplesmente escrevo.

Paro no corredor do meu trafego

Congestionando o pensamento.

Depois sinto que não sou mais o mesmo

Minhas veias cortam caminho

Saio levitando.

Já não sei se vivo

Ou se estou com uma folha agarrada nos dentes.

Quando me pega a saudade

Eu não acendo a luz

Não falo de momentos

Não lembro de rostos.

Quando me pega a saudade

Presto atenção no silencio

E copio seus segredos ao longe

No naufrágio das águas no tempo.

Depois desapareço em mim

Minhas mãos acariciam o tecido do vento

Por baixo de suas vestes e nuvens

Para assombrar a noite

E deixar rastros do meu galope nas montanhas.

Quando me pega a saudade

Eu não remexo gavetas

Não ouço música

Não releio cartas.

Quando me pega a saudade

Penetro em minha respiração

Orbito no espaço das emoções

Caio devagar sobre um campo de palavras,

Depois não perguntem por mim

Não me procurem em casa.

Esperem minha volta

acampados em frente a uma fogueira

Ou sonhando com a chuva

arrastando um pouco de terra

Que eu já chego com um poema novo.

Ricardo Mezavila
Enviado por Ricardo Mezavila em 23/08/2012
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