ÓRBITA CONTÍNUA
As costas do dia são mapas oceânicos
Filtrando o liquido dos poros da terra,
De onde evapora o ar das narinas
Sem que saiba do coração quantas batidas.
Hoje deixei de ser dia presente.
As aves noturnas descansam sobre o telhado
Deitam no ventre da noite, sem fronha.
Sonho com as nuvens inchadas bordando montanhas
Pintando o ar feito desenho no caderno da criança.
Hoje sou filho de ontem, pai de amanhã,
Arco –íris reciclando a órbita contínua
Perpetuando a fixação em novos cristais
Através de sua majestade : o tempo inanimado!
Que governa o destino e devora os sonhos.
Fica a espera com sua enorme garganta
Pronto para engolir tudo o que já foi vida,
Como um lobo faminto dentro de casa.
Agora quando já partiram as cinzas do que fomos
Embaladas pela corrente da ventania;
Agora quando não há mais as chamas dos corpos
Incendiando os apartamentos gelados da cidade,
Já que a noite chora na sarjeta a dor dos bêbados,
Vejo festa nos olhos do bandido
E visito o cemitério, jardim de ossos,
Local definitivo da minha ansiedade de terra removida.
Escolho uma cova bonita junto ao muro
Com vista para sua janela,
Para que eu possa subir como os bichos românticos
E espiar você se despindo para dormir.