Dolorosa Realidade

Descerrei as cortinas do palco mundo

e me deparei com um teatro de angústias

onde a fome e a miséria consomem

as poucas esperanças do pobre homem.

Mortos-vivos caminhando sem rumo.

Tudo errado... Realidade fora de prumo.

Lágrimas sem sal... Corpos sem nutriente;

retrato cruel de um mundo doente.

Manipuladores dando as cartas calados,

e o trabalhador faminto... Desgraçado;

corpos surrados... Sonhos abandonados,

alimentando uma finada esperança.

Almas chorosas... Tristezas que beiram insanidade,

milhares de pessoas dormem nas ruas das cidades

em busca de uma chance... Viver com dignidade.

Eu quero uma cura pra esse mundo de enfermidades!

Mas tolo eu poeta... Com minhas vãs palavras,

triste poeta contemplando essa imundície

deixando gravado nas linhas o desgosto;

poesias caladas e escritas a contragosto.

E o vento varre as cinzas... E leva as preces.

Sentimentos de misericórdia... A quem merece.

E a devassidão esconde as verdades... Nuas e cruas;

mas o poeta descobre-as embaixo dos tapetes.

Desse palco imundo... Resquícios do submundo,

onde as lágrimas correm sem parada... Sem um lenço a enxugá-las.

E o poeta... Ah o poeta! Que grita calado

esses versos de um espírito magoado.