Exemplos de cantigas de amor, amigo, maldizer e escárnio: seleção de J B Pereira
Cantiga de amor:
Eu-lirico masculino; cantiga lamentativa; amor platônico, mulher inatingível ou por ser casada ou de classe superior ao trovador,; altamente respeitosa, idealiza a mulher.
Conheço certo homem, ai formosa,
Que por vossa causa vê chegada a sua morte;
Vede quem é e lembrai-vos disso;
Eu, minha senhora.
Conheço certo homem que perto sente
De si a morte chegada certamente;
Vede quem é e tende-o em mente;
Eu, minha senhora.
Conheço certo homem, escutai isto:
Que por vós morre e vós desejais que ele parta;
Vede quem é e não vos esqueçais dele;
Eu, minha senhora.
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Cantiga de amigo: São mais espontâneas e menos elaboradas. A repetição pode virar refrão. O amado é tratado como “meu amigo”. Temos as barcarolas, pastorela, romarias (relativas a assuntos de religião e visita a templos antigos), bailias ou de danças, as alvoradas ou albas. O trovador imagina como são as emoções do eu-lírico feminino em suas relações amorosas. A mulher do povo chora a ausência do amado, que foi embora para cruzada, nos navios para as Índias, ou a abandonou para outra mulher.
Ondas do mar de Vigo,
Se vires meu namorado!
Por Deus, (digam) se virá cedo!
Ondas do mar revolto,
Se vires meu amado!
Por Deus, (digam) se virá cedo!
Se vires meu amado
Por quem tenho grande temor!
Por Deus, (digam) se virá cedo!
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Cantigas de Escárnio: linguagem mais velada, sátira indiretas em relação às de maldizer.
Cantigas de maldizer: sátiras diretas, litotes ou agressão direta, linguagem de baixo calão.
Ai! dona feia! Fostes vos queixar
Porque nunca vos louvei em meu trovar
Mas, agora quero fazer um cantar
Em que vos louvarei, todavia,
E vide como vos quero louvar:
Dona feia, velha e louca!
Ai! dona feia! Que Deus me perdoe!
Pois vós tendes tão bom coração
Que eu vos louvarei por esta razão,
Eu vos louvarei, todavia;
E veja qual será a louvação:
Dona feia, velha e louca!
Dona feia, eu nunca vos louvei
Em meu trovar, mas muito já trovei;
Entretanto, farei agora um bom cantar
em que vos louvarei todavia:
e vos direi como louvarei:
dona feia, velha e louca!
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FONTE: CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Literatura: história & texto 1, Saraiva, 2005. p. 149-157.