ALMA EM TRAPOS

É justamente porque estou morto que digo:

a sucumbência é sagrada & o prestígio uma maldição,

o deus das suas devoções mais ordinárias

sequer mostra o nariz no umbral

Mesmo assim permaneço,

porque desaparecer & ser esquecido

é trabalho mais árduo do que sorrir nas fotos policiais

Um cão furioso & pestilento olha da minha alma,

minha alma em trapos é uma piada

& só os bêbados & os idiotas propõe a ela negócios fraudulentos

Aonde caí apenas os espantalhos entendem

Sou aquele que preferiu a mais louca papoula

dos desenfreios desmedidos à hóstia da normalidade frouxa

Permaneço fumaça aonde as brasas morrem na entrada

das tendas tenebrosas dos rituais bacanávidos

De mim nada espere a não ser apodrecimento & descrédito,

porque na mortalha dos deuses afugentei materialismos inseguros

com a mentira das vidas passadas presentes nos sonhos,

& na conjuração dos demônios apaguei os números

para que o caminho de volta fosse errado,

& por detrás do trono enfeitado de caveiras

o sol nasça como a concessão das trevas

ao mundo que sabe da paz por atrocidades

A carnificina é uma cerimônia plena de crença no Poder Pessoal,

do contrário, o diálogo dos tiranos não seria com o espelho,

pois na mediocridade o calmante é o eco, não,

o tempo não é uma cerimônia indígena,

afinal a mulher que estende o longo caule da rosa insubmissa

do sexo vocífero, conhece os segredos da conspiração cósmica,

porque não há reino sem marginalidade

Como eu disse, sou apenas uma notícia anônima,

esparramo os olhos nas descidas íngremes dos morros justiçados,

porque muito depois da carniça minha ideia

é desaparecer num carnaval sem máscara