A alegria simples de existir

Quis o destino

(porque assim tinha que ser)

que aquela pinta

assimétrica

de duas cores

(preta e marrom),

que crescia

e se deformava

em pequenos

tentáculos

e raízes,

lhe cobrisse

e penetrasse

malignamente

a pele dura

e quase invisível

do couro cabeludo.

E lá,

passando

despercebida

sob vasta cabeleira negra,

ela cresceu

e aprofundou-se,

e suas sementes

pelo sangue

chegaram

primeiro

ao cérebro,

depois

ao fígado,

pâncreas

e intestino.

E quis o destino

(porque assim também tinha que ser)

que

nesses

órgãos

de massa

fértil

as sementes

germinassem

e crescessem

sem dor,

continuando

o corpo

suas brincadeiras,

resolvendo

seus assuntos,

e a mente

planejando

e sonhando,

porque,

afinal,

ninguém

acha

que

vai

morrer

aos

vinte

e cinco

anos.

Até

que vieram

os sintomas

(dores terríveis)

e um médico,

fingindo humanidade,

disse:

– Infelizmente, não há nada a fazer.

Mas quis o destino,

ou algo

muito

acima

de nossa

compreensão,

que

sim

houvesse

algo a fazer,

e depois de

um ano

de tratamento,

estava ele

curado.

E sua vida

como que

trocou de lente,

para melhor

captar

e sentir

os instantes,

as cores,

sabores

e odores,

enfim:

a alegria

simples

de existir.

Flávio Marcus da Silva
Enviado por Flávio Marcus da Silva em 18/08/2012
Código do texto: T3836654
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