Estranha Predileção
Varais vestidos de sonhos
Nas cores que o Sol arrebata
Roupas estiradas no arame
Como este viver infame
Que arrasta para a estrada
Trajes de muitas almas
À espera do amanhã
Noites que nascem cansadas
Sem pressa de ir embora
Sob o ar estagnado
Que sufoca nos varais
Projetos inacabados
Estendidos os desejos
Felicidade lampejo
Lambe a noite a lua fria
Que indiferente a tudo
Revela toda a magia
Na prata que enfeita o céu
Carrossel de fantasias
Parque das estrelas cadentes
Do existir deprimente
Onde se faz urgente
Suprir a sede de afeto
Encontrar caminhos retos
Um mundo menos concreto
Aranhas tecem as teias
Arranham as rendas prata
Ateiam as armadilhas
Insanos desejos nascem
Colmeia de mil rainhas
Pouco mel pra tanto potes
De barro frágil moldados
Expostos nas prateleiras
De longe se vê os varais
O balanço dos lençóis
A seda que o vento leva
Como carrega os sonhos
Estendidos nas calçadas
Vestidos em tom carmim
Em busca do amor sem fim
Fim de tudo filtra a noite
Entre as teias mal tecidas
Arranhadas por aranhas
Que sem pena ou piedade
Envenenam as entranhas
Estranha predileção
Sepultados os desejos
Escolha da solidão.