A NÁUSEA

A Náusea

1942

Num espelho encardido afixado

Numa moldura Luís XIV

Vislumbro em seco recorte

o meu vazio e o vazio

De meu quarto, encardidos

Este charuto, este rosto cansado e míope

É então Jean-Paul Sartre?

Uma semana sem Simone, sem

Notícias, sem concluir uma página sequer

Sorvendo a maresia nauseante

De todo o absurdo, este, o Todo

Absorto em resistir, em construir

Um sentido dentro de uma Europa-

um-

quarto-

frio

A Guerra freme mas me talha esta sensação

De que o tempo, inábil, esculpe os homens em tédio

Tentando forçar uma neutralidade artificial

Que não existe, não pode existir

Estamos aqui, um triálogo

Entre o Absurdo e o Ego e a Morte,

A Morte monologal

Hoje

ao descer para buscar a correspondência

Vi a filhinha do casal ao lado, os marroquinos

As crianças não costumam sorrir-me,

Mas havia,

Um sorriso constante-teimoso sempre no rosto dela,

Sempre

Como algo vermelho rompendo uma muralha

Por um instante, naquele momento-bouquet

eu vi cores caudalosas lampejarem

Nesta semana cinzenta.

Sammis Reachers

do livro Poemas da Guerra de Inverno (disponível para download gratuito aqui no Recanto)