QUE TREM DANADO

Antonieta Lopes

O trem danado vai comendo gente,

Pára nas estações e vai comendo,

Barriga cheia, farto, segue em frente,

Congestionado apita – oi grito horrendo.

Sua pança de ferro, indiferente

Sem se importar com o frio vai gemendo,

E a cara enorme, férrea, bruta e quente

Tem rachas, tem farol e tem remendo.

Vara a noite, da noite não tem medo

Ligeiro mil quilômetros engole,

Com jeito de truão de olhar azedo.

Mas a guiá-lo, frágil, meio mole,

O maquinista faz dele um brinquedo,

Pula e enche de óleo o imenso fole.

Antonieta Lopes
Enviado por Antonieta Lopes em 13/08/2012
Código do texto: T3828481
Classificação de conteúdo: seguro