QUE TREM DANADO
Antonieta Lopes
O trem danado vai comendo gente,
Pára nas estações e vai comendo,
Barriga cheia, farto, segue em frente,
Congestionado apita – oi grito horrendo.
Sua pança de ferro, indiferente
Sem se importar com o frio vai gemendo,
E a cara enorme, férrea, bruta e quente
Tem rachas, tem farol e tem remendo.
Vara a noite, da noite não tem medo
Ligeiro mil quilômetros engole,
Com jeito de truão de olhar azedo.
Mas a guiá-lo, frágil, meio mole,
O maquinista faz dele um brinquedo,
Pula e enche de óleo o imenso fole.