Face

Vejo em meu rosto

os caminhos que já percorri

e as estações em que desci.

Vejo um sudário

do que vivi.

Caminho comprido

de cinquenta mais seis.

Décadas sem becas,

mas de algum saber.

Talvez tão inútil

quanto esse ainda querer.

Revejo em minha face

os mares que naveguei,

os montes que atravessei

e os outros tantos caminhos

que só eu sei.

Ali, naquele sulco,

hoje estéril,

vicejou um grande amor.

Acolá, sob as sombras,

escondem-se algumas perdas.

São as máscaras

que a vida me vestiu.

Mas, no entanto,

essa água que purifica minha cara

e lava a minha alma,

rega o que eu semeei

e será essa nova messe

que haverá de me levar

por outras veredas.

Sinto que de novo

o verde se espalha

e que uma nova

promessa me fala,

na intimidade da antiga sala.