o Perfumado.

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porque trans borda

Deixa ir...

o passado

o fantasma em declínio

as vozes desse hospício

onde enjaularam a tua mente

suave até o permitido - sutil

no permeado de afagos urgentes

na penumbra, na turva lente -

por onde mal viste do pendurado a forca...

Deixa ir...

é tarde o fruto é podre o miolo do pão

é frágil a casca da espera

é tonto o carrasco que te apedrejou a testa

e é fútil tua fuga em demora...

Deixa ir...

as fotos do antigo, os objetos de prata

as ofensas de má dicção

os dentes de leite

o leite da mãe

o ninho doente da mãe...

Deixa ir...

o veto do pai

o cuspe do pai

no prato que o filho comeu

e esbanjou...

Deixa ir...

os móveis de ocasião

os cristais estilhaçados

a ruína, os arruinados

que te espelham e abraçam...

Deixa ir...

o anel que te sobra do dedo

o gatilho que te cobre de medo

a imprevisível armadilha do mundo

que te chama amor...

Deixa ir...

abre espaços no estreito trajeto

compassando a dor de outro plano

compensando de amplidão o teu passo

e o que foi te tirado de feio e belo...

Deixa vir...

de tão tempo doido, doido tempo o perfumado

Patricia Porto

Patricia_Porto
Enviado por Patricia_Porto em 11/08/2012
Código do texto: T3825603
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