Sacrifício ao Cordeiro
Advertência desnecessária para os ocultos: Gostaria que esse segredo fosse lido por quem de alguma maneira reconhece que há coisas inauditas e que sabe pelo toque das estrelas que um caminho novo dura feridas para ser construído.
Como quem esteve aqui um dia,
Um cometa visitou meu leito
De areia e neve.
E lá ficou quieto, mudo, meigo.
Os acordes da Aurora varre o orgulho noturno.
O sol desperta vida no dentro das coisas.
Um pardal recita poemas camonianos
Em língua portuguesa.
Linda interpretação!
Mas o cometa passou pelo meu quarto.
E o deixou em fogo vivo,
Ardendo na pele o nosso desejo,
Queimando na alma o proibido.
Não sacrifiquem o Cordeiro.
Antes, devorem os meus olhos,
Para que não mais veja.
Arranque-me a pele com lâmina de ouro.
E faça de meu corpo templo dos desejos.
Por que nunca soube o que senti?
Por que nunca olhou e viu?
Sempre, sorriso tão ausente.
Sempre, as reticências...
Já é Tarde,
Ainda há Primavera.
Deixe-me ir, agora.
Deixe-me tentar mais uma vez.
A minha pele precisa veranear o horizonte.
Inscrevi meus segredos sob pedras sagradas.
E querbrá-las fez surgir faíscas de fogo e gelo
Por todo lado, por todo dentro.
Todas as estações se encontram no seu olhar.
Minhas mãos caminham ao seu encontro,
Porém não as vê.
Não as sente.
Apenas a dor do desejo ocultado.
Há amor e uma completa descoberta.
Falaremos de olhos fechados
Com voz sumida na escuridão.
Dedos passeando pelo seu corpo
Pele suada, quente, roçando a minha.
Língua conhecendo os sabores sinceros da carne.
Braços enrijecidos pelo desepero das sensações.
A vontade manifestada na força dos movimentos.
Na calmaria de um quarto,
Um Cometa arde em chamas.
Alguma coisa foi sacrificada ao Silêncio.
O mesmo pardal recita outros versos...