As cores de seu destino
O azul que encantou o astronauta nos espanta
e o poeta vai de branco pela rua cinzenta
Enquanto o céu cobre de vermelho o leito do céu
o monstro de olhos verdes não mais assusta
Vão-se as esperanças, ficam as incertezas
e a lâmina cega da realidade rente aos olhos
os anos escorreram pelos dedos
com a liquidez da areia fina
como os cabelos impertinentes em sua cabeça
Duas, três, quatro décadas
resultam num inventário de sonhos e perdas
mas a caminho de casa os passos recordam
exatamente onde tropeçaram
Sete, oito horas ou mais
perdidas a cada dia no trabalho improfícuo
sacrifício tão necessário quanto aviltante
que o peso das pálpebras insiste em registrar.
Foram-se as festas, os amigos
foi-se a esperança , o amor
os dedos urdem o fio do dia com a textura do aço
e os relógios, estes odiosos companheiros,
desdenham sutis de todo o movimento.
Foram-se os projetos, os croquis
foi-se a pena, o papel
Apenas o vermelho sanguíneo pulsando em artérias roxas
e o castanho dos olhos procurando pelo arco-íris
no celeste azul,
tentando adivinhar
as cores de seu destino
ou o enigma de sua vida
impressos dentro de si, prestes a explodir,
com a imprecisão de uma estrela.