Como água para chocolate
Anjos azuis...
Dormindo em crateras de nuvens de algodão
Costurando vestes de solidão
Para vestir o firmamento.
Alimentando-se de estrelas
E sorvendo o sumo do luar...
Asas guardadas, em uma caixa, presa nos ombros,
Sem querer levantar voo...para não aterrissar no chão.
Paralelepípedos, inertes pedras
Obsoleto mar da natureza.
Passadouro de cães perdigueiros, farejadores.
Querem os fios d'oiros dos teus cabelos
Os noturnos anéis de t'alma
A palma de t'uas mãos
As penugens de tuas vestes
Pintadas em nanquim e aquarela.
Anjos brigam, fazem silêncios,
Duelos sem espada, sonetos e duetos...
Sinfônicos na crosta terrestre e além dela....
São mestres em trombetas.
Espécie, como a gente, gente em extinção
Existem anjos intrigados
Ocupam espaços diferentes
E invadem o nosso espaço.
Anjos de asas de aço.
Loucos ficam os astros
Que são fiéis e leais companheiros...
O que queres de mim?
Xeque-mate...
Vinho? ou "Como água para chocolate"?!...
Meus braços são tentáculos
Num gesto de afago. Te acarinho....
Numa crise de possessão, tento esmagar ossos num abraço
Grito, através do cérebro: Poesia...
Solto o laço, nó cego, desembaraço.
Tentas me moldar, feito Michelangelo
Esculpindo Moisés e batendo com o martelo na escultura...
Gritando: Parla!....Parla!...
Sussurro: Te amo! Te amo!...
Tantos olhares ressequidos
Olhando o próprio túmulo do umbigo
Quando viver é compartilhar...dividir...somar....
Nunca, subtrair...
Embriagar-se de vivência...desvencilhar-se.
Vivo cada instante, como último suspiro
Para deixar que o último, seja eterno, pleno
Para não queixar-me, de ser, realizar e fazer.
Amo, acima de todas as coisas
O universo que vejo
E aquele outro que está por vir.
Me amo, sei me seduzir!...
Inverno orvalhado...
Jazo corpos frios e pálidos,
Entrelaçados na relva, entregando-se ao luar...
Tony Bahia.