Inventário
Faço meu inventário de desilusões:
contabilizo os espinhos,
as marcas,
os arranhões;
enumero os dias de solidão,
as horas de espera,
os minutos de agonia.
Meço o volume das lágrimas
(as já caídas e aquelas por cair).
Revejo no arquivo as necessidades,
listo os argumentos e os classifico
entre plausíveis, concretos e irretocáveis.
E assim, no final do dia,
tenho finalizado
meu insucesso.
De posse deste documento
é que vou ao seu encontro:
no caminho, triste, triste,
entre confusa e ansiosa,
repasso a pauta, retifico as dores
para ter certeza
da minha argumentação.
E, ah, você me chega
sexta feira, casual:
calça jeans, sem gravata,
sorriso e perfume de sempre.
Brilha. Eu nada tenho a fazer
além de olhar, frio na barriga,
aquela luz que me cega,
uma felicidade que vem não sei de onde:
tanto trabalho perdido!
- O que eu ia dizer?
Esqueci, não era nada.
Apenas me beija de novo.