Nadar
Nadar, nadar, nadar
Nos 400 graus de fogo
Na torre que repousa na bacia de detergente
No pote de anis estrelado estilhaçado
Parece mesmo estrela no chão, na pá
Nadar, nadar, nadar
No pote sem tampa do distraído garçom
No azeite de reta torta
E a maestrina diz:
- Venha em mim!
Nadar, nadar, nadar
Na pinça que desmonta a flor
Na taça marcada pela boca vermelha
Nas farinhas que se enroscam na prateleira
Nos panos que secam quase tudo
Nadar, nadar, nadar
Ao som da maquina de lavar
Nos chapéus sem cabeça para repousar
No triangulo de circulo caramelo
Nas cores verde, laranja, branca e rubi
Nadar, nadar, nadar
A papa de feijão pergunta:
- cadê a minha fraldinha?
Enquanto o ilusionista de 400 graus negativos
envolve a plateia
Nadar, nadar, nadar
No varal de pregador frágil
Na porcelana delicada
No afrodisíaco Jambu
No timer que avisa a hora de chegar
Nadar, nadar, nadar
No entre o detalhe no preparo
Na mão determinada
No corredor que divide tudo
Na lixeira preta decorada colorida
Nadar, nadar, nadar
Na mangueira de água calma
No lenço que envolve a mesma maestrina
No ruído inesperado
No chão brevemente manchado por suor
Nadar, nadar, nadar
Sendo observado retangular
pelo cliente que almeja sereia sem mar, sem rio
Pelos passos do salão
Pelo talher que sobe e desce
Nadar, nadar, nadar
Sem cessar antes de amanhã
Até fogo se apagar
E ilusionista repousar
Na madrugada.