Mergulho no Espelho

O poeta cético caiu tragado pelo espelho

E nenhum reflexo ficou

Nem quando o poeta sério o procurou

Não havia espelho

No seu olho

Nem na superfície fria que habitava

Não havia luz

Nem brilho

Apenas o som

De palavras mudas

As águas do espelho

estavam paradas

Gélidas e mortas

Como um lago lunar

Em que poetas sérios e céticos

Vagassem entre esqueletos de sereias

Foi como o estalo

De um cacto no deserto

Uma aberração

O poeta sério

Como todos de agora

Sorriu então

Sem dentes

para a televisão apagada

(seu mundo era nada

um mundo de medo

onde só ele existia)

Zulcy Borges
Enviado por Zulcy Borges em 07/08/2012
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