Mergulho no Espelho
O poeta cético caiu tragado pelo espelho
E nenhum reflexo ficou
Nem quando o poeta sério o procurou
Não havia espelho
No seu olho
Nem na superfície fria que habitava
Não havia luz
Nem brilho
Apenas o som
De palavras mudas
As águas do espelho
estavam paradas
Gélidas e mortas
Como um lago lunar
Em que poetas sérios e céticos
Vagassem entre esqueletos de sereias
Foi como o estalo
De um cacto no deserto
Uma aberração
O poeta sério
Como todos de agora
Sorriu então
Sem dentes
para a televisão apagada
(seu mundo era nada
um mundo de medo
onde só ele existia)