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Vitrais do Existir




Tantos mosaicos dos cacos
Sobras do etéreo existir
Tornam rotina a rude arte
De transformar cada parte
De um mundo torto, opaco
Teimosamente aos cacos
Em geométricos vitrais
Pintados de cores vitais
Onde espreguiçam sonhos
Dispersos como confetes
Na quarta feira de cinzas
Cacos de dor e saudades
De amarga solidão
Espalhados na estrada
Como folhas amareladas
Na estação outonal
De bondosa que é a vida
Oferece a cada dia
Quando bate a nostalgia
Gotas de perseverança
Ensina a juntar os cacos
Com a cola da esperança
Vitrais viçosos se mostram
Da imaginária união
Sob o sol da primavera
Reluzem à espera das noites
Para cirandar nos céus
Abraçado às estrelas
Demoradas madrugadas
Impõe o vazio desigual
Para tanta solidão igual
Igualam-se os lamentos
Leitos de afeto sedentos
Arrastando para o ontem
O hoje incoerente
Dos amanhãs incertos
Vidas desalinhadas
Esperança amarrotada
Desperta à revelia
No alvorecer dos dias
Obras inacabadas
A espera dos artistas
Equilibristas ousados
Delicada bamba da vida
Percorrem toscos tapetes
Fuga das insanas redes
Remendos do existir
Ainda assim fazem arte
De sonhar mil baluartes
Teimosos juntam os cacos
Socorro gritam as almas
Desgarradas do afeto
Mundo cinza concreto
Concretizam os mosaicos
Transformando a agonia
De existências em cacos
Em contagiante alegria.



(Ana Stoppa)






Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 05/08/2012
Código do texto: T3815214
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