A Janela
Olho por entre as frestas
Da imensa janela que não mais sustenta
A brisa agradável que transpassa
Tampouco o canto vil dos sabiás
E que numa pequena fresta se formou.
E dos velhos rostos e sorrisos desbotados
Dos antigos olhares apaixonados
Que por ora se formaram
Não há o que se sustenta, o que fica.
Das marcas que o tempo a torna
Tão antiga, tão singular, tão medíocre
E das cores que se desbotam
Dos sonhos e desejos infinitos
Que numa pequena fresta se formou.
E essas grades que se estremecem
E esses vidros já tão quebrados
Remetem ao passado
A mera imagem do que restou.
E eu vejo rastros, eu vejo passos
Da janela que ficou
Inerente, impotente, imersa
À nostálgica imagem
Que numa pequena fresta se formou.
Ah! Janela, minha janela
Da vida, da eterna beleza que há
Do anseio por liberdade
Por prazer em sonhar, em viver, desejar
Seus verdes, seus cantos e cores
Seus “amores-desamores”
Que por ora vem, por ora vão
E marcam o tempo, o retrato que há
Nessa pequena fresta que se formou.
(29/09/2010)