Raiva
Em meio a sombra espreita,
raiva que tantas vezes rasgou
meu peito, criança que observa-me
deitado pela pequena fresta.
Não ouso levantar e a porta fechar,
sei que és muito esperta, e a porta
permanece entre-aberta, devora-me
com seus olhos por esta fresta.
Vejo-te! A luz da lua ilumina seus olhos,
não vejo seu corpo, velho monstro!
Rouba minha paz, meu sono.
Tento levantar, mas falta-me forças.
Criança maldita! venha!
Entre em meu quarto, mesmo estando paralisado
não vai rasgar este meu peito atrofiado,
mastigado e cuspido das outras tantas
vezes que tens me visitado.