A CIDADELA TOMBOU
A cidadela tombou
Com estrépito e horror seus muros caíram
Não vi reis nas fileiras dos que a defendiam
Não vi nobres gritando entre os soldados
Embora tenha visto muitos soldados mostrando-se nobres
A cidadela tombou
Caiu o ultimo bastião ao romper da aurora
Em fogo e sangue lavada a muralha
Coragem e covardia lado a lado na turba
Crianças fugindo...
Vi crianças gritando...
Vi crianças escondendo-se...
Oh céus vi crianças morrendo...
A cidadela tombou
Foi-se por terra a ultima resistência da torre
Pereceu violentamente o ultimo defensor dos portões
Morreu em silencio...
Sem gritos ou xingamentos
Sem maldiçoes ou suplicas
Tombou feito guerreiro
Calado e lutando
No fim a morte nunca quer alarde
Não importa quanta dor nem quantos gritos
No fim... A morte e silenciosa
A cidadela tombou
Morreu hoje no ocidente a ultima dinastia real
A derradeira realeza se foi gritando ordens covardes de sua sala
O trono não os protegeu
O dinheiro não parou o inimigo
Os títulos não os impressionaram
A realeza se foi ignorante e sórdida
Urrando ordens a pobres defensores desesperados
No fim só eles...
Apenas eles...
Os soldados valeram de alguma coisa entre todas as posses do rei
Mas...
A cidadela tombou
O fogo já devora a ultima sala dos nobres
Os saqueadores já espoliam ate a ultima moeda do tesouro
O castelo não é mais castelo... é ruína
A cidadela tombou
É o fim do ultimo reino
Novos poderes proclamam suas posses nas ruas
Novos senhores exibem aos derrotados sua força
O povo assiste...
Apenas assiste...
O povo sempre soube como isto terminaria
O povo viu este reino nascer
Viu tantos outros...
Paciente e resignado o povo apenas espera
Pois reis nascem e morrem
Governos vão e vem
Mas só o povo permanece.