Sobremesa de Domingo
Nas sestas domingueiras há um encontro marcado com minha mãe.
Tão logo cochilo, ela aparece e vem conversar comigo.
No encontro há sempre muitos casos
para nós contarmos um para o outro.
Sempre aos domingos...
Os casos não se encerraram nem com sua partida.
Um destes, ela quis saber:
-Sua irmã contou-me que nestes tempos
você ficou sabendo de poucas e boas pelas esquinas da vida.
Conte-me!
De outra feita ela estava no féretro
de nosso ente e ela falava.
O que não sei. Sei que falava.
No domingo passado,
eu sentia um mal terrível
e
ela insistia comigo para eu ir com ela.
Eu não quis.
Ela ficou ali velando aos pés da cama já que não podia me levar.
Cuidava de mim.
Neste ela foi incisiva:
-Você abandonou fulana!
Ao que retruquei:
-Antes de abandoná-la eu fui abandonado...
Exceto, é claro, pela Vida, apesar de frágil;
pela poesia, que é minha companhia;
pela História, que é meu vintém;
pela morte, que me aguarda assentada.
Espero pelo próximo domingo
para ver qual será o assunto
que eu e ela discutiremos
como sobremesa domingueira.
L.L. – Bcena, 03/11/2000
Poema 795 – Caderno: Amor Dormido e Sonhado.