Desejo
Iníquo
Vácuo que ostenta lápides
E aparta seres, prazeres e deveres
É incerto saber que nada se sabe
É vago e ostenta terrores
Tremores imperceptíveis
Incríveis são os homens
Corpos promíscuos, espíritos retrógrados
"Abolido pela censura"
Este o destino dos amantes
Vagas que vagam trôpegas
Obscuras, fagulhas distintas
Sua Santidade impura, febril
Sentada sobre um vulgo barril
Tonel de anseios e persona non grata
Debruce-se sobre o peitoril
Calce as alparcas do desejo
Esvoace, rompa os grilhões
Padres se desfazem em sermões
Vi seios intumescidos
Proscritos por serem indecentes
Seios-vidas
O fruto gerando novos amores
Nada transforma nada
Cada ato, um novo ato
Cada ser, um novo ser
E a fúria prossegue
Devastando, devassando incautos
O peão que não ama mas se enternece
Irrompe a peste
Tudo fenece
E sucumbe o amor, a dor, a vida
Mas o desejo permanece.
CARLOS CRUZ - 1990