Reflexão
A terra não me pertence mais,
Nem o sol, nem a chuva, nem os ais
Nem as trevas nem a luz
Nem o amarelo,
Menos ainda os azuis.
Não me pertencem o beijo,
A língua e o paladar
O gosto amargo, o insípido, nem o falar.
Tampouco me pertence a mudez,
Nem o silêncio, nem loucura ou lucidez.
Não me pertencem a juventude e a velhice
Nem mesmo sabedoria ou tolice
Nem o chão, nem o fogo, nem o ar.
Nem a terra, nem o céu, nem o mar.
Não me pertence a águia em seu voo rasante
Nem a lagartixa e o seu rabo mutante
Não me pertencem flores nem dissabor
Nem os horrores, sequer o amor.
Não me pertence a vida,
Nem algum modo de viver
Nem o certo, o errado,
O lembrar ou o esquecer.
Não me pertence a dúvida, nem a certeza
Nem o mal nem o bem, nem compreender
Nem o escrever ou apagar
Nem qualquer inspiração que me soprar
Não me pertencem estilos, formas,
Grades ou vincos
Nem pontes, nem muros ou trilhos.
Não me pertencem espinhos, desertos, cascatas.
Nem fontes, rios e matas.
Não me pertence altivez ou humilhação
Neste exato momento me pertence apenas reflexão...