Honolável amiguinha

A alma deita-se à brisa indo, indo, indo embora pelos trigais

O coração escuta nas frestas das palavras

O som é longo e canoro

Me embriago de poesia

A poesia me diz tanta coisa que às vezes confunde-se com a minha vida

E o poema vira flor aberta no inverno

Gota de orvalho na folha

Nuvem branquinha pendente no céu onde à noite será lua

Água na concha da mão

Os lábios da moça que amo

O sol traça garatujas entre as nuvens

Enquanto te espero

Por favor, não demore

Enquanto te espero atiro pedrinhas no lago

((((()))))

Tudo é incerteza

Silêncios de julho

Acendendo medos em candeeiros bruxuleantes

E eu fico aqui

Com saudade de quem nunca vi

A brisa que sopra aqui agora pode muito bem ter desmanchado o teu cabelo

No final da tua tarde quando as garças encerraram as cores do dia

Quando o sol se pôs dentro do mar,

como tantas vezes faz

Adormecendo a tarde com o vermelho simulando fogueira a arder no horizonte

O ar sufoca

Lento é o tempo

Calado

O inverno vai sangrando lentamente

E tudo fica esperando a primavera

Desde ontem

Desde quando as flores cairam derrubadas pelo murmúrio da brisa

Atirei ao céu o teu nome para ver se apanhava estrelinhas

O vento soprou e levou teu nome derramando sobre mim tantas estrelas

Meu coração, no abandono da noite, olhou os rostos dos deuses

Entristeci

Não te encontrei

Não estavas nos pedaços de ruas tingidas de sangue pelas cores do ocaso caminhando para dentro da noite escura

E eu me perguntava: por onde andará minha honolável amiguinha?

Por onde andarão os olhos negros que se confundem com a noite,

que nada sabem da luz que se alonga na sombra e ecoa bucólica rumo ao rio?

Em qual retrato, em qual perfume, minha saudade te encontrará?

Saudade também se escreve com sonhos e nuvens

Lá longe a brisa flana nas águas do Rio Grande

E por entre o escuro verde azul das águas pequeninas estrelas cadentes falam de ti

Como fala de ti o pássaro que canta para as manhãs,

tão leves

O pássaro que passa sozinho no céu azul que é seu mar

Julho é um canteiro de rosas que virão com a primavera

Eu sei

E os lírios e a neblina de uma manhã,

num domingo,

num inverno,

falarão de ti

como se já estivesses estado aqui