Maratona de um Par de Calcanhares Descalços num Mundo sem Orelhas
Correndo entre essas frestas
Sem fim nem começo
Num mundo de altos e baixos
Onde as estrelas se misturam
Onde os camelos morrem sedentos
E um suicida escorpião bebe seu veneno
Correndo entre os maratonistas cansados
Nessas vielas atordoadas
Num mundo de desfiladeiros profundos
Onde as areias se colidem
Onde os cães ladram murmúrios
E um colibri corta suas próprias asas
Correndo incansável
Nessas harmonias em partituras
Partidas entre os compassos
Onde o arquiteto mede sua jornada
Onde o camaleão se mistura em cores
E um leão vende a própria juba em um mercado tailandês
Já não vou mais correr
Vou enfrentar essas muralhas
Vou fazer um negócio da China
Vou vender meu almoço
Pois hoje ainda preciso jantar
E minhas entranhas sangram
Vou ficar aqui um pouco
Vou ficar aqui pra sempre
Ou nem vou chegar a vir
Vou ficar calado e ouvir
A voz do mundo surdo
Que me canta poesias
Vou correndo no final do dia ver o sol partir...