Castelo de Ossos

Vejo esse castelo de ossos refletido no espelho

Ele tem uma torre de olhos fúnebres

Tem cabelos que tecem histórias

E nas têmporas uma língua extinta grita

Um castelo sombrio de fogos-fátuos

Onde a barba esconde os mistérios

A sombra e a luz sobrepostas em vitrais

E na garganta uma sequidão de ferro e fogo

Um fosso alimentando ideias escarnecidas

E um olhar de ossos gastos entre as labaredas

Vejo um ventre de sete filhos mortos

E seu estomago engolidor de esperanças

Vejo no espelho esse fêmur magro e osteoporótico

Ranzinza é seu sorriso entre lacunas de dentes trituradores

Os tímpanos são de um blues refinado e suave

Que como um cão rosna partituras em claves deterioradas

Subo a torre do castelo escalando suas costelas

Lá me encontro comigo mesmo, em alma

E os recônditos estreitos jorram luas minguantes

Então me sento a contemplar essa escassez de sóis

Vejo-me no espelho sentado a sacada desses ossos

Olhando de dentro pra fora ou de fora pra dentro

O que vejo são metacarpos e metatarsos feridos

E ouço já ao longe as músicas dos camponeses

Atravesso uma longa ponte de tíbias e perônios

Onde as pernas cansadas sentam-se em cadeiras de clavículas

Também descanso em uma rede de rachados calcanhares

E o que resta enfim sou eu decomposto em minhas falanges

Olho esse espelho de ossos sem fim

E minha própria ironia sorri para mim

Calo-me e me visto a pompa real

Para um baile cósmico e sem final