PRAGA DE SACI.
O tempo é cara tosco,
que escorre pelas frestas da vida feito cão vadio,
que mal sabe da sua sina, da sua dor.
É criatura bizarra,
que goza quando o circo pega fogo,
que gargalha quando a alma infecciona.
O tempo é engodo na sua dança maior,
que confunde as vértebras do caminho feito praga de saci,
que pouco sai da sua toca
e quando sai é para não voltar mais.
O tempo é a desforra de Deus para todos seus deslizes,
desnudando os suores dos homens sem pedir licença,
nem tampouco desculpa.
Tem horas em que fica corcunda,
que cabisbaixa suas ideias,
fica chocho, maltrapilho, sem gosto, sem cor.
Então se recorda dos ventos fugidos que foram seus domínios.
Recorda das mantas ardentes com que aquecida seus medos.
Recorda os desentalados abraços que sempre mantinha à espreita.
Então, feliz como nunca fora até então,
tira de dentro da sua alma o unguento precioso
na forma cantiga de roda.
E assim, só assim, poderá descansar de vez.
Em paz.
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