NO DESERTO DE NOSSAS MADRUGADAS

NO DESERTO DE NOSSAS MADRUGADAS

A insônia me pega pesado,

Na cama viro de lado a lado,

Vejo fantasmas de minha vida

Saindo rindo de minha ferida.

Escolhas as quais tive escolha,

Outras me fecharam como rolha;

Culpo o nazareno menino Jesus,

Que na genética me deixo a cruz.

Ando pela casa no escuro total,

Na oração procuro o tal sinal.

As horas escorrem como sangue,

Pegajosas como as águas do mangue.

Penso em olhos e talvez em pernas.

As luzes dos postes são lanternas,

Elas velam a procissão dos mortos,

De almas tiradas em tantos abortos.

Queria um trago no cálice do sono,

Ou melhor, eu ser a copia do carbono.

Deixar o meu eu no esquife mumificado,

Como as emoções em potes do meu lado

No deserto de nossas madrugadas,

Acaba no céu com cores misturadas.

Tomo banho para esconder o meu animo,

Pois na sociedade sou todo magnânimo.

Que sono!

André Zanarella 04-01-2012

André Zanarella
Enviado por André Zanarella em 24/07/2012
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