MARIPOSAS

MARIPOSAS

Tic-tac, tic-tac, tic-tac,

Cantava o relógio preso à parede.

Enquanto os ponteiros andavam habituais,

A assinalar sucessões...

Uma mariposa solitária e distraída,

Fora do seu curso caiu na armadilha.

E ficou presa a uma gota de orvalho!

Podia vê-la, entre essa gota d’água e a vidraça,

Expressão apavorada, misto de medo e receio!

Já vi desses sentimentos,

Desses mesmos espantos, dessa mesma solidão.

Saídos dos semblantes dos homens!

Mesmos impedimentos...

A cada, tic-tac, tic-tac, tic-tac...

Confinava-se, frágil, exaurida.

Perdia-se diante daquele mar falaz!

Talvez aquela gota, fosse para ela,

Inconsiderado tsunami,

Os mesmos que invariavelmente,

De inopinado abatem-se sobre as criaturas.

Eu continuava absorto,

A observar o relógio e a mariposa.

E nas imagens desses, tic-tac, tic-tac, tic-tac...

Revelou-se uma fotografia insofismável,

Quão delicada, também são as criaturas humanas!

E quantas gotas d’água,

Dão a dimensão exata,

Entre os homens e as mariposas?

Preso à parede!

O relógio seguiu seu trilho,

Tic-tac, tic-tac, tic-tac...

E o tempo segue inexorável!

Albérico Silva