De encantos
De encantos
Dete Reis
Por ter essa vontade louca de falar de encantos,
por ter essa ânsia tanta: descobrir sentidos,
por ter essa ansiedade de abrir a boca,
por ter essa insanidade presa aos meus ouvidos.
Por ser assim inviável a tantos passantes,
por ser e andar sonhando, vagueando abraços,
e ver a incerteza acesa, olhos vacilantes,
me perco entre os resolvidos,
procurando espaços.
O intenso que não se revela, se esfumaça e some.
É fruto da fusão: sentir e tentar dizer...
é soma do olhar teimoso, absorto e solto,
e a causa desse sentimento livre se perder.
Se perde no vazio imenso, lonjuras, distâncias,
e voa por tantos lugares, ao simples se dá
emerge de um novo encanto, meras reticências...
alcança o belo acanhado e comum que há.
E o feito de se achar na vida, curiosamente,
catando por entre suas trilhas, qualquer poesia...
dançando nos braços do vento alegre e indolente
compondo junto a natureza rara melodia,
seguindo o instinto que brota bruto irreverente,
da terra, do luar, da chuva, do canto do dia.
E o ganho por pensar poemas, por reter ruídos,
e o lucro do indefinível penetrar no olhar,
é tanto, pois nas alvoradas surgem renascidos,
momentos, famintos vorazes soltos pelo ar.
E o fruto colho com as mãos, com choro ou sorrisos,
a cada improviso acorde, que a vida tocar!