I-EXISTÊNCIA
Acordada, a maquiagem ficou no travesseiro.
A boca tem gosto de anteontem,
e os sapatos vermelhos se cansaram.
Quem acredita em suicídio anunciado?
Todas as vezes ela quer se matar,
todas as vezes ela duvida da vida,
e todas as manhãs são sempre iguais,
são a ressureição de um espírito que já viu tudo.
Em seu coração ela pede que todos acreditem:
um dia, ela ainda vai se matar.
Mas até la, irá apenas ensaiar,
com vodka barata e dança sem par.
Sempre, os sapatos destroem os pés,
e a dança sempre parece a última.
Sempre as perfurações no corpo darão lugar
ao odioso ato de se descobrir não ser nada.
Haverá um lugar, onde nada mais se sentirá?
Então ela caminha, então vai em direção à luz,
um neon tão sujo quanto as poças de água,
refletindo anjos fumantes e cães santificados,
companheiros eternos de corpos ultrajados,
daquilo que já foi homem, já foi filho de alguém,
e hoje se resume a quem paga pelos pecados.
Ela não merece um poema.
Ela não merece um novo par de sapatos.
Ela não merece esse escuro todo,
ela não merece o que eu quero gritar.