EXEGESE
EXEGESE
O amor que procuro não existe
É amor idealizado de quem insiste
Em buscar além da carne que freme
a mão que afaga; coração que sente.
É amor inusitado. Rude nasceu
De coração de homem que perdeu
Os vínculos com a realidade
Andando tonto de verdades.
O amor que amo é amor sem amor
Sem tradução, vestígio humano, cor.
Não se prende às curvas dos seios:
Troca de sangue correndo nos veios.
Pacto cigano de amor passional
Punho beijando o gume do punhal.
O amor em que acredito, não existiria
Fora de mim. Não sobreviveria.
Tento viver nesse tempo cristão
Embora more em um corpo pagão.
Passo horas mascando na tabacaria
A lembrança do homem que não ria
Não se comovia; não acreditava, duvidava
Mas nem por isso a marcha estancava
Era sempre em frente, para frente
Em busca do amor diligente
Que nunca apontava no caminho
Que o homem guardava com carinho
Do altar da janela onde quedava
A ver o tempo cerrando aldravas.
O homem com seu amor envelhecido
Passou inerte por todos os desejos sentidos.
Deixou restar este, que pensa ser imaginado
Mas que é amor, no sentido lato
O amor que amo não existe fora de mim
Contaminou-me os tendões, ligamentos
Não aceita que seja amor mastim
Exige, para amar, os sentimentos
Que o tempo idealizando gente
Não mais permitem o que o homem sente.