CONVERSA DE VERÃO

CONVERSA DE VERÃO

Enquanto escrevo

Na mesa ao lado

Surdina-se Marx

Cochicha-se utopia

Sentam em beira de abismo.

Brotando,

Murmúrios entrechocam-se

Na vidralheira dos copos

Libertadores de palavras

Há tanto algemadas,

Cochilantes. Agora, lépidas

Esfaimadas por ar.

Mãos, afeto e rímmel

Confundem-se na tarde morna

Borbulhante de olhos

Corpos coloridos

Carregada se sentidos aflitos

Premeditando seis horas,

Enquanto assisto à procissão

De personagens que desfilam,

Eternamente indefesos de nós,

Descubro novas verdades

Crescendo de verdades

Antigas e gestadas.

Abiogênese.

Meu coração não pensa

Mas a boca descuida um sorriso.

Impedido de mim

Quase resistindo

Deposito a caneta na toalha

Beberico laranja com Vodka

Abstendo-me de uma poesia.

Olhar à frente

No outro lado da rua

Em degradê, móveis antigos

Enodoam e pedem socorro

Testemunhando tudo.