Filhos da poesia
É bom escrever porque reúne as duas alegrias:
Falar sozinho e falar a uma multidão.
Cesare Pavese
Filhos da poesia
A poesia transmuta
Briga de galo sem luta
Inspiração e transpiração
Cerimônia e Prece
Liturgia e labuta.
Açoites n'alma
Olhos d'água
Surto sem tréguas
Cansaço, léguas...
Paraquedas saindo das trevas
Iluminando com estrelas
O chão da poesia.
Nos céus azuis, o gozo dos versos
No ventre do universo.
Brilha porque é sol...
Ilumina porque é lua!
No descasco das palavras
Nozes germinando em mim
Vozes, tom marfim.
Zumbidos no ouvido
Sonho escrevendo, acordo:
Gritos e sussurros nos lençóis
Quase choro...
O corpo amarrotado por fora
Por dentro reverso. Viés...
Caneta de pena, tinteiro e papéis...
Só!...
Luas, Sóis, Céus...
Abelhas acasalando pelos afazeres do mel
Formigas operárias se precavendo do frio
Bicho da seda tecendo fio a fio
Borboletas agrárias, paradas na parede...
Morte súbita!
Talvez retornar lagarta
Bicho de quatro patas ou duas
Gente? Coitada!
Grão de areia no deserto
Pedra calcificada num muro de arrimo
Candelabro acende o pavio do parto...
Cabras silenciam
Cobras enrolam-se
Cães não ladram
Gato não mia...
Sem gemido
Sem ruído
Grito
Num sopro de vida
Nasce poesia...
Sem calcinha e camisola
Sapatilhas nas asas
Bailarina numa ilha!
Nua, insinua
Cega a lua.
De casa em casa, Cultos...
Deleite dos aflitos e moribundos!
Confeitos de acrianças e adultos.
Em nome do Pai!
-Aonde vais?
Abro janelas e portas
Deita na terra molhada, na horta
Brinca com verduras
Lambuza-se....
Orelhas de abano!
Ainda inocente, nunca viu olho humano...
Olhos verdes esmeralda, os dela
O mundo é uma aventura, devasso
Continue a ser como nasceste: Pássaro.
Levanta voo num chão de linho
Desajeitada, meio jeca, mal saiu do ninho.
Com sede de viver, tudo
Sentir tudo, multiplicar-se
De mãos em mãos, livro, amarelar-se.
Hierógrafos...
Vazio inteiro
Feito copo que transborda
Com bordas espreguiçadas
No útero da fantasia
Gerando filhos da poesia...
Páginas de pergaminho
Letras e garranchos voa
Pousa em tuas mãos, aos gritos
Alimento d'alma, escritos...
Tony Bahia