Hannah e suas irmãs

Acordou

às duas da madrugada,

suando frio,

preocupado

com o futuro incerto:

O que fazer se...?

E se...?

Ai, meu Deus...

Foi à cozinha,

abriu a geladeira,

não queria nada,

mas mesmo assim pegou

um pedaço de bolo

da

Barbie

que a filha não havia comido

na véspera

e o engoliu

de uma vez,

sem ver,

sem nem sentir o gosto

da gelatina

de morango

misturada à massa,

da cobertura

de confetes

coloridos,

do recheio

de leite

moça

cor

de

rosa.

Ligou a televisão

e desabou no sofá.

Acendeu um cigarro

e tragou fundo,

bem fundo,

a fumaça formando

imagens

do passado

– fantasmas

de dor

e medo

dançando

à

luz

inquieta

da tv.

No chão,

cinzas de outras madrugadas

e formigas

comendo os restos

de uma maçã

já preta

de fungos

e bactérias.

E se...?

Começou a ver o filme

– uma comédia antiga

de Woody Allen:

“Hannah e suas irmãs”.

E riu.

E ao rir,

deixou-se levar,

e se divertiu,

e parou de pensar

no que seria

se isso,

no que fazer

se aquilo,

e curtiu

cada momento,

cada cena,

como se toda a vida

estivesse ali,

sem passado

nem futuro.

E viveu.

Flávio Marcus da Silva
Enviado por Flávio Marcus da Silva em 21/07/2012
Código do texto: T3789802
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