CONTAI PELOS MESTRES

Os camaradas não disseram que havia uma guerra

e era necessário trazer fogo e alimento. Contai.

Contai os vivos e os mortos de sobrecasaca.

Contai as sombras das casas e os taciturnos

que porventura encontrar pelo caminho.

Não há mais pedras no meio do caminho (todas

já foram atiradas na direção de alguém). Contai.

Contai os enterros que não foram feitos

dos mortos esquecidos sobre as mesas.

Contai os barulhos nas escadas, contai as quadrilhas.

Contai as mãos dadas dos Josés que suportam o mundo.

Contai as velhas paralíticas nostálgicas de bailado.

Contai os leiteiros ignaros que perderam a pressa que tinham.

Contai o nosso hábito de sofrer que tanto nos diverte.

E, por fim, contai, contai a negativa e derradeira narrativa

de Cubas. Contai-nos, com ou sem filhos,

a miséria intimamente pública instalada.

Eduardo Marçal Silva
Enviado por Eduardo Marçal Silva em 21/07/2012
Código do texto: T3789425
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