BRINCANDO DE MÉDICO E PACIENTE

Hoje lembei de ti, amiguinha

E em meio a tanta lembrança

Fui de retorno ao tempo de criança:

Feliz vivência tua e minha.

Em tal remissiva jornada

Um sem fim de brincadeira:

Eu, o médico; tu, a enfermeira.

E a mais apreciada:

Mim, o doutor; amiguinha, a paciente.

Compenetrado médico,

De IRREPREENSÍVEL comportamento ético.

A Ana Néri, DADIVOSA e competente.

Quanto me aborrecia

Tua ansiedade na exigência

De cliente sem paciência,

Quando eu de pronto não satisfazia

A rotina por ti mesmo traçada,

Eras menina impositora e mimada.

Indiferente ao que o protocolo dizia

Eu ti realizava os desejos

Ferindo o hipocrático juramento.

Assim, a cada instante ou momento

Com negligência e sem pejos

Da anamnese distorcia etapas

Se não, me cobrias de tapas.

Quando me demorava na INSPEÇÃO

De teu corpinho na cama estendido

Logo era repreendido

Por somente usar a visão.

Pagava eu preço bem alto

Se, procedendo a minucioso ato

Me detivesse na PERCUSSÃO.

Gostavas desta, mas só um pouco.

Aí, o médico, que por ti era louco

Procedia a uma longa PALPAÇÃO,

De tudo o que mais gostavas.

Lembro de como rias

E de que inteira te contorcias.

Os meus braços apertavas.

Para alongar algum prazer

Que nunca disseste se chegaste a ter?

E embora não sendo dentista

Mas, médico perfeccionista

Tua boca examinava,

Com os dedos a explorava

Em tua língua eu os passeava

E não sei porque eu salivava...

O estetoscópio era o ouvido

De modo certeiro e devido

Em teu peito bem colado.

De teu coração as batidas escutava

Enquanto tua mão meu cabelos afagava.

Mas eis que ocorre o indesejado:

Um intruso mal educado

Pois que não se fez anunciado

Surge em meu quarto nunca dantes adentrado

Naquela hora do dia

E, aos berros sentencia:

"PAREM de fazer coisa feia!

Não quero ouvir explicação

O que eu vi não tem perdão"!

Ou será que foi "SUAS ALMAS NÃO TÊM SALVAÇÂO!"(???)

Não sei se era meu pai um mais velho irmão.

O que aconteceu comigo

Quanto a físico castigo

Confesso não recordar.

Sei que para minha agonia

Ficaste bem mais de um dia

Sem na minha casa voltar.

Mas era de nosso mútuo prazer

Voltar tudo de novo a acontecer.

Providencial plano arquitetei

E tão logo implementei:

Meu consultório mudei

Para lugar mais resguardado

Das vistas de potenciais

E intolerantes "fiscais".

Não lembro ao certo onde foi relocado.

No quarto de despejo? Não sei...

Ou em lugar mais temerário

Como irrespirável interior de um armário?

Fiz esforço e não recordei...

Em face de amnésias e dúvidas

Faz-se mister que me acudas

Para repor doces lembranças

De quando éramos crianças,

Eu e tu, nunca esquecida amiguinha.

Só entrevejo esta solução:

Entrarmos em regressão

Voltando à doce vida passada,

Com ternura sempre lembrada,

Oh! sempre querida amiguinha.

Serei o pediatra; Tu, a pacientezinha.

Alfredo Duarte de Alencar
Enviado por Alfredo Duarte de Alencar em 20/07/2012
Reeditado em 06/09/2012
Código do texto: T3788657
Classificação de conteúdo: seguro