POÉTICA

Resta-me apenas a poética,

a porca vaga poética, demasiada objetiva pueril poética;

incidente amparativa poética, mas menor poética.

A poética das poéticas, universais, reluzentes;

a poética da nossa gente, do nosso grão de chão.

A poética de todos os tempos, do todo enfadado,

do todo maltratado; a poética do todo parafraseado.

A poética do mato, do chato, do asfalto;

a poética do nefasto, dos dementes alterados.

A poética dos cheiros florais, da pluma do manso,

do trompete, dos quarteirões; a poética dos solteiros.

A poética das ilusões, dos trejeitos, dos cardumes,

da defesa civil; a poética dos amantes ocasionais.

A poética da noite, dos pastos, da maresia;

a poética dos livros, da sertania hereditária.

A poética dos tolos, das raparigas, dos inocentes,

de todas as cantigas; a poética da vida.

A poética da meninada, do ovo cozido, da borboleta azul;

a poética da casa de José, da marcha retrógrada.

A poética dos amores, das viagens cósmicas, dos candelabros,

das cerimônias; a poética das imbecilidades adquiridas.

A poética dos corpos, da burguesia, do palhaço;

a poética das mulheres mais belas, das mais feias também.

Resta-me, ainda, a poética!

Pura e tão somente a poética, doce e amarga;

toda e qualquer espécie de poética...

Eduardo Marçal Silva
Enviado por Eduardo Marçal Silva em 20/07/2012
Código do texto: T3788603
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