POÉTICA
Resta-me apenas a poética,
a porca vaga poética, demasiada objetiva pueril poética;
incidente amparativa poética, mas menor poética.
A poética das poéticas, universais, reluzentes;
a poética da nossa gente, do nosso grão de chão.
A poética de todos os tempos, do todo enfadado,
do todo maltratado; a poética do todo parafraseado.
A poética do mato, do chato, do asfalto;
a poética do nefasto, dos dementes alterados.
A poética dos cheiros florais, da pluma do manso,
do trompete, dos quarteirões; a poética dos solteiros.
A poética das ilusões, dos trejeitos, dos cardumes,
da defesa civil; a poética dos amantes ocasionais.
A poética da noite, dos pastos, da maresia;
a poética dos livros, da sertania hereditária.
A poética dos tolos, das raparigas, dos inocentes,
de todas as cantigas; a poética da vida.
A poética da meninada, do ovo cozido, da borboleta azul;
a poética da casa de José, da marcha retrógrada.
A poética dos amores, das viagens cósmicas, dos candelabros,
das cerimônias; a poética das imbecilidades adquiridas.
A poética dos corpos, da burguesia, do palhaço;
a poética das mulheres mais belas, das mais feias também.
Resta-me, ainda, a poética!
Pura e tão somente a poética, doce e amarga;
toda e qualquer espécie de poética...