PRELÚDIO DA INFELICIDADE (O SONHO ACABOU)

Nosso sonho acabou,

não importa quem foi o algoz,

não fui, nem tu, fomos nós,

não importa o pano rasgado, nem o pecado,

amor ao relento alimenta o desalento,

cai no chão estéril, árido e grassa,

consome e some na fogueira que passa e repassa

emoção no olhar, que denuncia e sentencia o final;

Sensualmente tu me dizias:"meu bem",

e assim te chamava também,

secreto código, discreto, malícia verbal,

sinal à carícia, ao abraço, beijo e desejo,

pra terminar no lençol afinal;

Mas o sonho acabou!

hoje quando estranhamente me chama "meu bem"

soa falso, sem graça, sem o sentido outrora contido,

carinho, ternura, sentimentos distantes,

perderam-se por aí afora na madrugada escura,

agora a indiferença é marcante, presença constante,

passa o dia, anoitece, do outro se esquece,

na cama nada mais acontece, tudo em vão,

o que ontem efervescia, hoje noite vazia e fria,

não há chama, nem desejo ou tesão,

choro em silêncio, tu choras também, chora coração;

O sonho terminou, a verdade é o momento,

enxergar a impaciente realidade,

se transformei-me em teu grande tormento,

tu fostes o prelúdio da minha infelicidade.

12/03

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Registro Fundação Biblioteca Nacional/RJ

ANDRADE JORGE
Enviado por ANDRADE JORGE em 26/07/2005
Reeditado em 22/06/2016
Código do texto: T37872
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