OS CARAS NÃO VIERAM
Foram buscar uns caras lá pelas bandas
de baixo. Mas os caras não vieram.
Contam que os caras são bons, que são maus,
que os caras são muitos e as caras também.
Contam que os caras são broncos, amigos, orgulhosos,
dotados de conhecimentos inigualáveis; são fortes,
altivos, humildes e unidos.
Contam que os caras são camaradas e que viriam,
banda do meio adentro, espalhando o de melhor
e o de pior de seus.
Contam que uns caras trariam a paz em ternos
gestos altruístas. Outros trariam cigarros de chocolate,
outros confissões em cartas neo-românticas.
Trariam a guerra. Uns caras cismados trariam
graves dissensões e promoveriam a desordem geral.
Uns trariam flores. Caras jardineiros e botânicos
trariam a mais bela vegetação já vista em todas
as bandas. E enfeitariam tudo.
Uns caras trariam cruzes. Suas crianças viriam na marra
e seus doentes arrastados sobre padiolas improvisadas.
Outros caras trariam mantimentos de toda espécie,
de sorte que dariam para o sustento de toda gente
pelo tempo de uma invernada inteira.
Uns caras trariam livros, apontamentos, notas,
rabiscos e considerações (os caras doutrinariam e aprenderiam).
Uns caras trariam a fé, Deus vivo e o sublime
sentido da vida. Outros trariam somente a religião.
Uns caras não trariam coisa alguma
a não ser a si mesmos (este ato já valeria muito).
Outros caras, tantos outros caras trariam
tantas outras coisas. Mas os caras não vieram.
E todas as bandas de todos os pontos do planeta
vivem, continuam a viver em suas próprias bandeadas.
Definitivamente, os caras da banda de cima não
conhecem os caras da banda de baixo:
porque os caras não vieram.