Inquietude

Meu coração inquieto não se dá repouso

e o amor por ti não posso disfarçá-lo.

Lágrimas me caem: gotas de aguaceiro

sobre um corpo minguado, amarelento.

E, no entanto, estás perto, minha amada;

que seria de mim se tu te fosses?

Buscaram as desgraças atingir-me

com os teus olhos profundos de gazela.

.

Pelas estrelas cintilantes no escuro céu!

Pela própria lua refulgente!

Foi-se-me do jardim o meu orvalho

levado pelo perfume ligeiro do narciso.

.

Sabes, meu amor, estou pálido, cansado,

causa dó o meu estado - e tu tão indiferente!...

E ainda perguntas se estou doente

ou se me atacou o fogo do desejo!...

.

Senhora minha - alguém já te fez reparo -,

que injustiça a tua para quem te quer bem!

E ainda perguntaste: "sofres de desejo,

não aguentas a tua impaciência?"

Do meu querer duvidas, como és injusta:

notam-no os presentes e os que se ausentaram.

.

Allah!, deste imenso amor fiquei enfermo.

Como todas as paixões são fracas a seu lado!

Ele transformou o meu pobre corpo.

Quero a tua presença e não a alcanço.

Pede a Allah perdão por seres injusta,

pois todo o injusto deve pedir perdão!

.

(Al-Mutamid - Nascido em Beja, 1040 - f. em Marrocos em 1095)

Postado por Byülki de Istambul

Byülki
Enviado por Byülki em 19/07/2012
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