VIDA DE RIBEIRINHO

Há tempos, tornei-me ribeirinho,

Vivo a margem do lado de cá do Aqueronte!

Estou sempre às voltas com inundações,

Rio traiçoeiro, em cada enchente, leva multidões!

Nunca falta trabalho para Caronte, que – com sua barca,

Para uma viagem sem volta, alma das multidões embarca!

Vão todas para a outra margem do Aqueronte – queiram ou não,

Colher do que plantaram, conforme a Lei de ação e reação!

Caronte me espia, na torcida para que chegue logo meu dia!

Velho barqueiro, não quero fazer a passagem, por que me vigia?

Se ao menos, como Dante, eu tivesse uma apaixonada Beatriz!

Mas, a Vida me fez ribeirinho para viver sozinho – solidão ultriz!

Na verdade já nasci ribeirinho, as inundações são a saúde fragilizada!

Já molhei os pés nas águas do Aqueronte! Mas, temos hora marcada!

Manoel de Almeida
Enviado por Manoel de Almeida em 19/07/2012
Código do texto: T3786248
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.