À deriva

À deriva,

entre vagas desconhecidas.

As naus chegadas

e as naus partidas

não vêem a embarcação:

as naus é que

não.

Perdida,

num deserto de almas e emoções.

Nem os helicópteros

nem os aviões

percebem os pés, por mais que doam:

as asas só

voam.

E segue a busca,

por nada, por tudo,

com lábios emitindo um grito mudo

e nos olhos um brilho que ofusca:

tudo que sente, ouve, respira

se quer em estado bruto, total

busca estúpida, inútil, vital

que geme, agita, transpira

busca desenfreada

entre lúcida e desesperada

de algo inimaginado ou desconhecido

razão, limite, sentido.