cálice

sou cálice prestes à pedra

ao mármore das horas

não há mais seda em mim

nem doce saber

sabor

há sede

sinto-me cacos

que me cortam às bordas de mim

e eis que me sangram versos

e se me derramam qual alma

em letras sóbrias

parcas sobras de mim

De antanho viço

estranho vício de querer

me brindar em silêncio

em despeito da poesia

que já não me carrega

que não me suporta

que trilha os passos tão longe de mim

e eis que alto me apresento

ao vale das sombras

e me curvo

aos mistérios roubados de mim

e me segredo

que este quase medo

que esta quase força

que este quase verso

que esta sempre pedra

não me valem

nada me vale

a seda do que fui

a pena do que sou

e me deixo

e me derramo

e me calo

e me trago

da dose mais amarga de mim

E deliro manacás

e violáceas vogais

e te quero

e me renego tanto

que me deito

e me bebo

e me curvo

e me cacos

até que desistas tanto de mim

Capiau da roça
Enviado por Capiau da roça em 17/07/2012
Reeditado em 18/07/2012
Código do texto: T3783707