cálice
sou cálice prestes à pedra
ao mármore das horas
não há mais seda em mim
nem doce saber
sabor
há sede
sinto-me cacos
que me cortam às bordas de mim
e eis que me sangram versos
e se me derramam qual alma
em letras sóbrias
parcas sobras de mim
De antanho viço
estranho vício de querer
me brindar em silêncio
em despeito da poesia
que já não me carrega
que não me suporta
que trilha os passos tão longe de mim
e eis que alto me apresento
ao vale das sombras
e me curvo
aos mistérios roubados de mim
e me segredo
que este quase medo
que esta quase força
que este quase verso
que esta sempre pedra
não me valem
nada me vale
a seda do que fui
a pena do que sou
e me deixo
e me derramo
e me calo
e me trago
da dose mais amarga de mim
E deliro manacás
e violáceas vogais
e te quero
e me renego tanto
que me deito
e me bebo
e me curvo
e me cacos
até que desistas tanto de mim