Na Calada do Dia

Sons diuturnos na enseada

E sibilos de um vento passageiro

A lagartixa mastiga um suculento jantar

E meus olhos ziguezagueiam entre as flores

Na redoma infinita do castelo de areia

Eu sou regente de um exército de borboletas

E compro todas as cores invisíveis dos camaleões

Somente para agradar o deus dos camundongos

Sumidouros no fosso engolidor de jacarés

E as lendas ficaram de barbas grisalhas

Sacis e curupiras cantam em praças urbanas

Em troca de umas moedas de chocolate

Tantos dias e noites sem um peixe no meu anzol

Pois não há mais rios nos legados da minha pesca

Mas eu ainda alimento os pássaros libertos

E eles retribuem cantando em meu pé de laranja lima

Devaneios desvairados em um insano poetar

Escondidos atrás de montes de vasos de heliotrópios

Em diálogos interessantes com uma coruja

Que me conta as suas observâncias noturnas

Então adormeço numa cama de girassóis

E o despertador clama um novo minuto vivido