Propósito
Qual navalha não sabe o caminho de uma veia?
Qual lâmina não conhece a profundidade de um corte?
Qual taça não entende o propósito do licor?
Qual espelho não vê em olhos tamanha tristeza?
Que canção não sente o retalhar de uma alma?
Que poesia não grita com seus versos de sangue?
Que amante não lacrimeja abismos desertos?
Que perfume não traz a nostalgia das eras?
Que noite não aparentou ser eterna frente a dor?
Que madrugada não entrou vazia em um quarto?
Que corte não era fundo o suficiente para deter o tempo?
Que olhar não obteve as rosas inventadas?
Que outono não derramou liberdade morta?
Que vida não existiu ao acaso de si mesma?