Cova Rasa
Hoje sei que não devo olhar para trás,
mas sei que estou perdido neste mundo.
Não tinha vida no passado,
perdido no presente e sem futuro.
O que fui ontem? Nem eu mesmo o sei!
O que sou hoje?
Uma mescla de ontem! Continuo sendo nada!
E o amanha?
Como saber? Se nem no hoje sei o que sou!
Um grande abismo o velho destino,
mas quem sabe seja diferente?
A esperança é uma semente que faz sonhar,
acreditar que a chuva irá passar e o sol raiar,
ilusões, ilusões, ilusões.....
Ouço a velha voz: Não assim meu irmão!
Ouço-me a dizer: Como assim ilusão?
E vem a resposta: Não sou a ilusão, sou a voz do seu coração!
esqueça o que foi, sejas o que queres ser!
Ponho-me a pensar: Mas o que quero ser? Onde quero chegar?
O que desejo é a paz, não a mim, mas ao mundo...
Quanta futilidade e a felicidade vai sendo enterrada,
não a sete palmos, mas a vários metros.
E eu aqui nesta cova rasa, vem a chuva, vem o sol,
surgem as estrelas e a lua.
Eu sem forças para me libertar, lutando para gritar
mal conseguindo respirar.
Minha cabeça na guilhotina, meu pescoço na forca
e minhas mãos amarradas.
Pá a pá a terra lentamente cobre-me, sufocando-me
e ouvindo a voz: O que fui? O que sou? O que serei?
Uma vez na vida poderia ser diferente!
Morro lentamente, deixando este maldito coveiro
me enterrar, até que me falte o ar,
que venha a escuridão, o silencio,
sem mais perguntas, sem mais respostas...
Nada! Nada! Nada...
Apenas o vazio e o frio nesta cova rasa...