Ode à lágrima

Ela desliza pelas vertentes dos rostos

salgando momentos, marcando desgostos...

Assinalando alegrias...

Ou até por acção do vento

ou de um simples grão de areia

ou então pela emoção que causa

a beleza de uma lua cheia...

Ela é o retrato da saudade

é um atestado da ausência

de alguém que se quer bem...

É muitas vezes incompatível com o riso

mas também a este faz companhia

em instantes de euforia

em que a vida,infelizmente

não é fértil...

Ela tem uma linguagem contundente

em todos nós está presente

e povoa todos os vales

todas as cordilheiras e planaltos...

Está nas cidades

nos palácios

nos barracos

nas ruas e ruelas

nos becos sujos

e nas mansões belas...

Ela dá um tom de inocência

às faces da gente humilde

e às faces das outras gentes...

Faz brilhar os olhos da princesa

da camponesa

e da mulher urbana...

Ela desce lentamente

até projectar-se

ao encontro do esquecimento!

Ela é subtil

forte

e linda...

É uma lágrima!

Jacinto Valente
Enviado por Jacinto Valente em 11/02/2007
Reeditado em 17/02/2021
Código do texto: T377846
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