Saudades tuas
Sobre a contingência de nascer
paira a obrigação de olhar o riso,
de contemplar o esgar dos prantos
e de tocar na tua púbis negra!
É necessário correr!
Voar até ao estreito horizonte dos dias!
Percorre-los sofregamente
não os deixando passar em vão...
É preciso visualizar a dor e a morte
por entre cada segundo que se vai
como gota de sangue que cai de um corte...
E entre tantos sonhos e enganos
muitas vezes percorri os teus atalhos
e palmilhei as tuas carnes
com o cansaço dos meus teimosos dedos...
Rasguei-te com a loucura dos sãos
e fiz-te lágrima escorrendo-me pelo peito!
Reduzi a ti todos os meus dias,
de todas as minhas estações,
e gritei para que me ouvisses,
e para que sentisses
como te esperava!
Via-te ao vento, ao relento e à chuva...
Tocava a tua imagem encaixilhada...
Cheirava o teu perfume
que ainda me empregnava a alma!
E era de desejo esse odor que me entorpecia...
Era doce e ocre numa mistura de suor e flor!
Alimentava-me de ausência
e da solidão com que me brindavas...
E quando surgias no jardim
eu esquecia-me do mundo dos homens
e só te olhava, incrédulo,
achando impossível
que tanta beleza
se pudesse conjugar num só ser...
...Estou a perder-me no azedo da saudade
estou a repetir-me ao repetir-te!...
Eu só quero dizer que te amo!